A editora suíça Les Sept-Flèches lançou em dezembro de 2013 o primeiro livro com extratos de cartas de Frithjof Schuon. Chama-se Vers l’Essentiel: Lettres d’un Maître Espirituel [Rumo ao Essential: Cartas de um Mestre Espiritual].
O volume tem 236 páginas e está dividido da seguinte forma, por critério do editor, Thierry Béguelin: cartas a correspondentes cristãos; cartas a correspondentes sufis; cartas a correspondentes hindus; cartas a correspondentes budistas; cartas a correspondentes peles-vermelhas; cartas a noviços; cartas a seu irmão; cartas a correspondentes diversos. As cartas vão de 1940 a 1995.
O livro é uma pérola, ou melhor, uma coleção de pérolas. Os conselhos espirituais ali dados são de grande valor e profundidade, assim como os ensinamentos doutrinais e as aplicações práticas dos princípios.
Damos aqui a tradução de duas delas:
Carta de 7 de fevereiro de 1980: a absurdez à nossa volta
Uma das coisas mais difíceis de suportar é a absurdez humana; aceitá-la a título de necessidade ontológica faz parte do Islã. Há pessoas que creem que é virtuoso não ver o mal e fingir que o que é negro é branco, o que é a própria negação da inteligência; na realidade, trata-se de discernir exatamente entre o bem e o mal ao mesmo tempo em que se se resigna, não ao mal enquanto tal, mas à existência metafisicamente inevitável do mal. Tudo isto é evidente, mas eu o escrevo porque o espetáculo do mal faz sofrer e porque já é um tanto de santidade saber combinar um discernimento implacável com uma serenidade inalterável; a qual não exclui, aliás, a santa cólera, quando for o caso.
Carta de 1991: a vida espiritual
Em suma, a vida é simples: estamos de pé diante de Deus desde o nascimento até a morte; o que realmente conta é ter consciência disso e tirar daí todas as consequências. A consciência do Sumo Bem é a maior das consolações, ela deveria sempre nos manter em equilíbrio. Resulta dela, em primeiro lugar, a qualidade de resignação, a aceitação constante da vontade de Deus; esta virtude é difícil na medida em que queremos forçar o mundo a ser algo diferente do que ele é, a ser lógico, por exemplo. O complemente da resignação é a confiança; Deus é bom, e tudo está em suas mãos. Há também a gratidão, pois todo homem tem razões para ser reconhecido para com Deus; é preciso que nos lembremos dos bens de que desfrutamos, e não que nos esqueçamos deles porque nos falta alguma coisa. Enfim, é preciso fazer alguma coisa na vida, pois o homem é um ser agente; e a melhor das ações é a que tem Deus por objeto: é a prece.