‘Inteligência sem sabedoria’

“O sábio vê as causas nos efeitos e os efeitos nas causas; ele vê Deus em tudo e tudo em Deus. Uma ciência que penetra as profundezas do ‘infinitamente grande’ e do ‘infinitamente pequeno’ no plano físico, mas que nega os outros planos que, no entanto, revelam a razão suficiente da natureza sensível e dela fornecem a chave, é um mal maior que a ignorância pura e simples; é, em suma, uma ‘contraciência’, cujos efeitos últimos não têm como não ser mortais.

“Em outros termos, a ciência moderna é ao mesmo tempo um racionalismo totalitário que ignora a Revelação e o Intelecto e um materialismo totalitário que ignora a relatividade metafísica — e, portanto, a impermanência — da matéria e do mundo; ela ignora que o suprassensível — que está além do espaço e do tempo — é o princípio concreto do mundo, e também que ele está, por consequência, na origem dessa coagulação contingente e cambiante a que chamamos ‘matéria’ (1). A ciência dita ‘exata’ (2) é, na verdade, uma ‘inteligência sem sabedoria’, assim como, inversamente, a filosofia pós-escolástica é uma ‘sabedoria sem inteligência’.

Notas

(1) Interpretações recentes talvez ‘refinem’ a noção de matéria, mas de nenhum modo superam seu nível.

(2) Ela não é realmente ‘exata’, visto que nega coisas que não pode provar em seu terreno e com seus métodos, como se a impossibilidade de provas materiais ou matemáticas fosse prova de inexistência.

Frithjof Schuon, O Homem no Universo, Perspectiva, São Paulo, 2001, pp. 161 e 162. O original deste livro, Regards sur les Mondes Anciens, foi publicado em 1968.

Deixe um comentário