Artigos de Titus Burckhardt

É Porque Dante está Certo (Titus Burckhardt)

Entre os traços que atestam a grandeza incomparável da Divina Comédia, não é dos menos importantes o fato de que, a despeito de a amplitude e a variedade de sua influência terem sido excepcionalmente grandes — ela chegou mesmo a moldar a língua de uma nação —, tal obra foi raramente compreendida na totalidade de seu significado. Já durante a vida de Dante, aqueles que se aventuraram no oceano do espírito na trilha de sua nau (Paradiso, II, 1 ss.) estavam destinados a ser uma companhia reduzida. Eles mais ou menos desapareceram com o Renascimento; o modo de pensamento individualista desse período, oscilando entre a paixão e a razão calculista, já estava muito afastado do espírito de Dante, voltado para o interior. Mesmo Miquelângelo, embora tivesse por seu conterrâneo florentino a mais alta consideração, já não o podia compreender. (continue a ler)

Da Sacralidade das Águas (Titus Burckhardt)

O fato de que a ciência moderna, embora dispondo de todas as informações das pesquisas, há muito tempo venha descuidando de um dos mais importantes fundamentos de nossa vida e, portanto, de sua própria existência, qual seja, a pureza da água, indica uma unilateralidade de desenvolvimento que, além da água, põe em risco muitos outros elementos, entre eles, e não secundariamente, elementos da alma humana; e, no entanto, não por acaso a própria vida das águas – as quais, em seu equilíbrio natural, sempre restabelecem sua pureza, mas, com a perda desse equilíbrio, vão ao encontro da morte e da decomposição – é uma alegoria da própria vida da alma. (leia mais)

O Homem Conservador (Titus Burckhardt)

Deixando de lado quaisquer matizes políticos que a palavra possa ter, o conservador é alguém que procura conservar. E para dizer se ele está certo ou errado deveria ser suficiente analisar o que é que ele quer conservar. Se as formas sociais que defende – pois sempre se trata de formas sociais – estão em conformidade com o objetivo mais elevado do homem e correspondem à suas necessidades mais profundas, por que não deveriam elas ser tão boas quanto – ou mesmo melhores que – qualquer coisa de novo que a passagem do tempo possa trazer à luz? Pensar desta maneira seria normal, mas o homem de hoje já não pensa normalmente. (continue a ler)

O Retorno de Ulisses (Titus Burckhardt)

Toda via que conduz a uma realização espiritual exige que o homem se despoje de seu eu comum e habitual a fim de se tornar verdadeiramente “si mesmo”, transformação que não acontece sem o sacrifício de riquezas aparentes e de pretensões vãs, portanto sem humilhação, nem sem combate contra as paixões das quais o “velho eu” é tecido. É por isso que se encontra na mitologia e no folclore de quase todos os povos o tema do herói real que volta ao seu próprio reino sob a aparência de um estrangeiro pobre ou mesmo de um saltimbanco ou de um mendigo, para reconquistar, depois de muitas provas, o bem que lhe pertence legitimamente e que um usurpador lhe havia roubado. (continue a ler)

A Perspectiva Cosmológica (Titus Burckhardt)

As sete ‘artes liberais’ da Idade Média têm como seu objeto disciplinas que o homem moderno descreveria automaticamente como ‘ciências’, como a matemática, a astronomia, a dialética e a geometria. Essa identificação medieval da ciência com a arte, totalmente conforme a estrutura contemplativa do Trivium e do Quadrivium, indica claramente a natureza fundamental da perspectiva cosmológica.

Quando os historiadores modernos olham para a cosmologia tradicional – seja as doutrinas cosmológicas de civilizações antigas e orientais, ou a cosmologia do Ocidente medieval –, eles geralmente veem nela apenas tentativas infantis e tateantes de explicar a causação dos fenômenos. (aqui para ler mais)