“Quando constatamos numa pessoa defeitos de caráter, ou mesmo vícios, não devemos nos surpreender com isso mesmo se os pais são normais ou virtuosos, pois, se já houve santos cujos pais eram maus, o inverso deve também ser possível, ou seja, pode ter havido pessoas más cujos pais eram santos. Os traços de caráter de uma pessoa têm duas fontes possíveis: quer a substância individual – da qual ninguém conhece a origem –, quer a hereditariedade; quando um caráter não se explica pela hereditariedade, é porque ele se deve inteiramente ao indivíduo. Pois uma criança não é somente o produto de seus pais: ela comporta algo de novo que vem de si mesma, sem o que não haveria jamais homens excepcionais, e sem o que uma qualidade ou um defeito pertenceria sempre à linhagem paterna ou materna, até os ancestrais e até Abel e Caim. O fundo do problema, metafisicamente falando, é a Onipossibilidade: o mal não pode não existir, pois o mundo não é Deus; “o escândalo há de vir”, mas há também a parábola do filho pródigo. Tudo o que se pode fazer em semelhante caso é orar pela pessoa que se desviou; foi o que fez Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho; vós podeis orar também por vossos netos.
“É importante praticar, por um lado, a resignação e, por outro, a confiança: resignação à Vontade de Deus e confiança em sua Misericórdia.”
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Carta escrita em 31 de março de 1988. Extraída do livro de cartas de Frithjof Schuon: Vers l’Essentiel – Lettres d’un Maître Spirituel, Ed. Les Sept-Flèches, Lausanne, 2013., pp. 83 e 84