Só indivíduos podem ser salvos do modernismo, não coletividades

Caro Professor Needleman,

Em seu prefácio à segunda edição de The Sword of Gnosis, o sr. diz que o que é necessário é não somente a verdade, mas também um choque que a torne aceitável ao homem moderno. Ora, isso pressupõe que o homem moderno esteja aberto, não a qualquer choque, mas a um interiorizante, o que, precisamente, não é o caso.

A Revolução Francesa, e depois o comunismo, o fascismo e o nazismo foram choques, mas esses choques eram exteriorizantes.

O que significa que o Judaísmo, o Cristianismo e o Islã atuaram com choques? Significa que as coletividades humanas em cuja intenção eles existiam possuíam uma qualificação natural para esse tipo de terapia; que era possível interiorizá-las por meio de um choque, precisamente.

A própria definição do homem moderno é que um choque só o alcançará sob a condição de que o choque seja exteriorizante, não interiorizante; de que o choque deva ter algo demagógico, por exemplo.

Tudo isso equivale a dizer que em nosso século só pessoas individuais podem ser salvas do modernismo; não coletividades; de certa forma, o homem moderno é a criatura que, teimosamente, não quer ser salva.

Tudo isso significa que nós temos informação para dar, mas nada a pregar. A ideia de que deveríamos encontrar uma ideia-choque ou uma formulação-choque aceitável ao homem moderno médio é em si mesma contraditória; o choque iluminador ou interiorizante não tem mais como funcionar, já não há receptividade para isso. A razão de ser cosmológica do homem moderno é a possibilidade monstruosa da incurabilidade intelectual e espiritual; em outras palavras, a razão de ser da kali-yuga que termina é o esgotamento das piores possibilidades do ciclo humano; é uma necessidade ontológica, muito limitada, mas inevitável.

(…) perguntemos: o que podemos fazer para converter, ou informar, aqueles que são qualificados. E é exatamente isso que fazemos!

Sinceramente,

Frithjof Schuon

(Carta de 26 de outubro de 1989)