Arquivo da categoria: Religio Perennis

Três novos livros de Frithjof Schuon em português

A editora Stella Maris publicou três novos livros de Schuon em nossa língua.

O Jogo das Máscaras – Os artigos que compõem esta obra abordam os mais diversos temas de metafísica, espiritualidade tradicional, religião comparada e simbolismo. Das prerrogativas do estado humano ao significado do pecado original; da verdadeira caridade à razão de ser da inteligência; da importância da intenção correta ao sentido profundo da beleza — Schuon é notável por expor a sabedoria milenar das diversas tradições da humanidade duma forma tanto profunda quanto clara, tornando-a acessível, em sua essência, à mentalidade e aos conhecimentos das pessoas de hoje.

Para comprar na Amazon, clique aqui. Recomendamos a opção da UmLivro, de R$ 45. Para comprar na Estante Virtual, clique aqui.


Resumo de Metafísica Integral – Este livro apresenta de forma global, mas concisa, os principais aspectos da metafísica integral. Considerações sobre a Criação enquanto qualidade divina, bem como sobre a relação entre a Divindade e o mundo, são seguidos por capítulos que iluminam as características irrefutáveis da religião como tal, contrastando-a com certas falhas próprias ao exoterismo religioso. No plano das aplicações mais concretas da metafísica, dois estudos sobre o papel da emoção e sobre a impostura do psicologismo contemporâneo fazem a transição para os temas dos últimos capítulos, que são a raiz divina das virtudes e a natureza da verdadeira felicidade.

Para comprar na Amazon, clique aqui. Recomendamos a opção da UmLivro, que custa R$ 47. Para comprar na Estante Virtual, clique aqui.


As Pérolas do Peregrino – As múltiplas facetas da Verdade una que Schuon expôs em mais de vinte obras irradiam ao longo deste rosário de citações, provenientes, em boa parte, de textos inéditos. São reflexões curtas, belas e profundas, muitas das quais falam de aspectos simples e concretos da prática espiritual.

Para comprar na Amazon clique aqui. No Brasil, recomendamos a opção impressa pela UmLivro, que custa R$ 39,90. Para comprar na Estante Virtual, clique aqui.

“Cristo que vive em mim”

A mística cristã é “encarnação” e “crucifixão”: a santidade é como a encarnação do Verbo no corpo da Virgem, esta prefigurando a alma em estado de graça; é “Cristo que vive em mim”, como diz São Paulo; mas o ego é crucificado, ele expia as trevas do mundo, e por isso, ele “não deve resistir ao mau”; é a morte ao pecado — ao desejo idólatra — e o nascimento de Deus em nós. A crucifixão simboliza também a opressão do Intelecto pelas paixões: é Deus em nós que é o mártir de nossa decadência.

(Estações da Sabedoria, de Frithjof Schuon, capítulo “Natureza e Argumentos da Fé”.)

Carta de Schuon a Benjamin Black Elk

Hollow Bear, da tribo Brulé-Sioux, em foto de Edward Curtis (1907).

[Carta de Schuon a Benjamin Black Elk em Wyola, Montana, em 24 de julho de 1959. Nela, Schuon fala dos elementos essenciais da religião dos Índios.]

Nossa visita a Keystone foi inesquecível, mesmo tendo sido curta. Neste momento, gostaria de lhe escrever algumas considerações sobre o problema índio, porque é mais fácil para mim escrever do que falar em inglês. O fato de que o “homem branco” não irá nunca entender nem a alma, nem a religião dos índios não é, está claro uma questão de raça, mas uma questão de civilização. Por raça, sou um branco, e eu os entendo tão bem como um japonês ou um persa de mentalidade tradicional os entenderia; mas eu não sou um “homem branco” no sentido da “civilização moderna”, dado que eu não aceito suas ideias fundamentais de “civilização” e de “progresso”.

Continuar lendo

“Raízes da Condição Humana”, nova edição

A Editora Stella Maris acaba de publicar uma nova edição de Raízes da Condição Humana, de Frithjof Schuon. Esta obra, traduzida do original francês, tinha sido publicada pela Editora Sapientia, do Brasil, em 2014. Para a nova edição, foi utilizada a mesma tradução, a qual foi contudo inteiramente revista pela editora-executiva da Stella Maris, Beatriz Becker.

O livro pode ser encontrado na Amazon, não só no Brasil, mas em muitos países. Para adquiri-lo no Brasil, basta clicar aqui. Para adquiri-lo em Portugal, clique aqui.

O livro Raízes da Condição Humana contém as seguintes seções e ensaios:

I – Princípios e Raízes
Da Inteligência
O Véu de Ísis
Problemas do Espaço-Tempo
Mahâshakti
O Enigma da Subjetividade Diversificada
Sinais do Ser, Provas de Deus
Dimensões Salvadoras

II – Perspectivas Fundamentais
O Homem em Face do Sumo Bem
Esquema da Mensagem Crística
Esquema da Mensagem Islâmica
Pilares da Sabedoria
O Duplo Discernimento

III – Dimensões Morais e Espirituais
Sombras Cósmicas e Serenidade
Virtude e Via
Do Amor

A Stella Maris iniciou também uma conta no Instagram: https://www.instagram.com/editorastellamaris/

Pôr-se diante de Deus com um coração íntegro

Shrî Ramakrishna (1836 – 1886)

Todas as vezes que o homem se põe diante de Deus com um coração íntegro – ou seja, “pobre” e sem se inflar – ele se põe no solo da certeza absoluta, tanto a de Deus como a de sua salvação condicional. E é por isso que Deus nos fez dom dessa chave sobrenatural que é a prece: a fim de que nós possamos nos pôr diante dele, como no estado primordial e como “sempre e em toda parte”; ou como na Eternidade.

Dissemos: “Quando o homem se põe diante de Deus com um coração íntegro”. Isto exige implicitamente que o homem seja bonae voluntatis: não que ele não tenha jamais pecado, mas que ele viva sempre na intenção de fazer o que o aproxima de Deus, ao mesmo tempo em que se abstém do que afasta de Deus; e que ele manifeste essa intenção por seu comportamento, sem o que, precisamente, ele não poderia se pôr diante de Deus com um coração íntegro.

Tudo isto está ligado à “fé que salva”. A fé não exige que o homem ganhe sua salvação por tais ou quais obras; ela exige a prece e, como uma espécie de prolongamento desta, o cumprimento do dever, na abstenção como na ação. Esse cumprimento, quer seja habitual ou se imponha por circunstâncias particulares, encontra-se santificado pela obra por excelência, a primeira de todas, a prece; e ele participa assim, mais ou menos indiretamente conforme sua natureza, da alquimia libertadora de que a prece é o principal suporte.

Schuon, Resumo de Metafísica Integral (inédito em português), capítulo “A Religião Irrefutável”.

O homem nobre se identifica ao principial

Titus Burckhardt (1908-1984)

Não é de surpreender que para o sincerismo em moda o segredo seja coisa detestável, pois, desse ponto de vista, ser sincero é não esconder nada, e esconder alguma coisa é ser desonesto ou hipócrita. Ora, por razões evidentes, o homem tem um direito natural ao segredo: ele tem o direito de não mostrar um sentimento que só diz respeito a ele e, a fortiori, uma graça espiritual; um santo pode querer dissimular se não suas virtudes, ao menos sua santidade. A sinceridade consiste, portanto, menos em se mostrar em todas as coisas tal como se é do que em não querer parecer mais do que se é; o que não se poderia censurar ao dignitário investido de uma função social ou espiritual, pois suas atitudes normativas se referem ao princípio que ele representa, não à sua individualidade.

Para a mentalidade “de nosso tempo”, ao contrário, a sinceridade é a vulgaridade, e inversamente; o que pressupõe a opinião de que o homem é normalmente vulgar; assim, a vulgaridade tornou-se quase oficial. No entanto, a dignidade está ligada à piedade, ao amor tanto quanto ao temor; mesmo o pecador tem direito à dignidade visível, ou seja, ela se impõe a ele porque ele é homem “feito à imagem de Deus”, apesar de sua insuficiência ou de sua traição. Por certo, há homens perversos que afetam maneiras dignas — impostores, por exemplo —, mas eles o fazem por falsas razões, portanto por hipocrisia; a verdadeira dignidade não poderia ser afetada, ela é sincera por definição. O homem é nobre na medida em que ele se identifica com o principial e, portanto, com o necessário; com o arquétipo, não com o acaso.

Schuon, O Jogo das Máscaras (inédito em português), capítulo “Da Intenção”.

Nova iniciativa editorial

A Editora Stella Maris publicou recentemente, em português, Tesouros do Budismo, de Frithjof Schuon. O livro está disponível na Amazon de diversos países, inclusive na Amazon da Espanha, que atende Portugal. Nos próximos dias deve estar disponível na Amazon do Brasil.

Outro livro de Schuon que está em fase final de produção pela editora é Raízes da Condição Humana.

O Jogo das Máscaras também está sendo produzido, para publicação no primeiro semestre de 2025.

Em função da iniciativa da Editora Stella Maris, retiramos deste website os livros de Schuon que estavam disponíveis online, pois nossa intenção é publicá-los como livros físicos.

Lamentamos pelo inconveniente aos leitores que estiveram procurando os livros aqui, um dos quais hoje nos escreveu a respeito.

Aproveitamos para chamar a atenção para a seção espanhola do website sobre Schuon FSchuon.info, seção essa que tem dezessete artigos e outros conteúdos. Pode ser acessada clicando aqui.

O mesmo website tem conteúdo de e sobre Schuon em inglês, francês, alemão, italiano e português.

(Alberto Queiroz)

O pecador decide o que é bom, contra a natureza das coisas

Enoque (à esquerda) e Elias: ícone polonês do séc. 17.

Eva e Adão sucumbiram à tentação de querer ser mais do que podiam ser; a serpente representa a possibilidade dessa tentação. Os construtores da torre de Babel, assim como os Titãs, Prometeu e Ícaro, quiseram se colocar indevidamente no lugar de Deus; também eles sofreram o castigo humilhante de uma queda. Segundo a Bíblia, a árvore proibida era a do discernimento entre o “bem” e o “mal”; ora, esse discernimento, ou essa diferença, já faz parte da própria natureza do Ser, sua origem não poderia, por consequência, estar na criatura; reivindicá-la para si é querer ser igual ao Criador, e é essa a própria essência do pecado; de todo pecado. O pecador, com efeito, decide o que é bom, em oposição à natureza objetiva das coisas; ele se engana voluntariamente sobre as coisas e sobre si mesmo, de onde a queda, que não é senão a reação da realidade.

A grande ambiguidade do fenômeno humano reside no fato de que o homem é divino sem ser Deus: alcoranicamente falando, ele dá nomes a todas as criaturas, e é por isso que os anjos devem se prostrar diante dele; a não ser o Anjo supremo, o que indica que a divindade e, por consequência, a autoridade e a autonomia do homem são relativas, ainda que “relativamente absolutas”. Assim, a queda do homem como tal não podia ser total, como o prova a priori a natureza, e o destino, do patriarca Enoque, pai de todos os “pneumáticos”, se assim se pode dizer.

Schuon, O Jogo das Máscaras, tradução inédita de Le jeu des masques, l’Age d’Homme, Suíça, 1992.

Só indivíduos podem ser salvos do modernismo, não coletividades

Caro Professor Needleman,

Em seu prefácio à segunda edição de The Sword of Gnosis, o sr. diz que o que é necessário é não somente a verdade, mas também um choque que a torne aceitável ao homem moderno. Ora, isso pressupõe que o homem moderno esteja aberto, não a qualquer choque, mas a um interiorizante, o que, precisamente, não é o caso.

Continuar lendo

Um só dever: o reconhecimento cotidiano do Eterno

Um chefe da tribo Pés Negros. Foto de Edward Curtis.

“Todo aquele que viveu muito na natureza virgem sabe que há uma força magnética que aumenta na solidão e se dissipa rapidamente na vida entre os homens; e mesmo os inimigos dos índios da América reconheceram que nenhum outro homem o iguala do ponto de vista da força inata, ou do equilíbrio que se mantém impassível em qualquer ambiência (…)

“É a verdade pura e simples que o índio, enquanto se mantinha sob a influência das ideias de sua raça, olhava as grandes aquisições do homem branco sem nenhuma inveja e não tinha nenhum desejo de imitá-las (…) Ele as desprezava, assim como um espírito elevado, que está totalmente absorto numa obra difícil, despreza o leito demasiado macio, o gosto pelos alimentos refinados e os divertimentos superficiais de um vizinho rico. Ele estava persuadido de que a virtude e a felicidade são independentes dessas coisas, e talvez mesmo incompatíveis com elas (…)

“Ele achava revoltante e quase inconcebível que houvesse entre essas pessoas quem tivesse a pretensão de lhe ser superior, muitas ímpias (…)

“Os historiadores da raça vermelha devem reconhecer que não foi nunca o índio que quebrou em primeiro sua palavra (…) O antigo índio combinava sua atitude altiva com uma modéstia muito particular. A pretensão espiritual lhe era desconhecida por sua própria natureza e por sua educação (…) Ele só tinha um dever inevitável: (…) O reconhecimento quotidiano do Invisível e do Eterno.”

Charles A. Eastmann, citado por Frithjof Schuon.

O culto da inteligência afasta da verdade

A certeza metafísica não é Deus, embora seja algo dele. É por isso que os Súfis fazem acompanhar mesmo suas certezas desta fórmula: “E Deus é mais sábio” (wa ‘Llâhu a’lam).

O culto da inteligência e a paixão mental afastam da verdade: a inteligência se restringe quando o homem se fia somente dela; a paixão mental expulsa a intuição intelectual como o vento extingue a luz de uma vela.

A monomania da mente, com suas concomitâncias de pretensão inconsciente, de parcialidade, de insaciabilidade e de pressa é incompatível com a santidade; esta, com efeito, introduz no fluxo do pensamento um elemento de humildade e de caridade, portanto de calma e de generosidade — elemento que, longe de prejudicar o impulso espiritual ou a força por vezes violenta da verdade, liberta a mente das tensões passionais; ele garante assim a integridade do pensamento e a pureza da inspiração.

Segundo os Súfis, a paixão mental deve ser classificada entre as associações com Satã, como as outras formas da “idolatria” passional; ela não poderia ter diretamente Deus por objeto; se Deus lhe fosse o objeto direto, ela perderia suas características negativas específicas. Além disso, ela não tem em si mesma nenhum princípio de repouso, pois exclui toda consciência de seus próprios limites e carências.

Schuon, Perspectives spirituelles et faits humains, Les Cahiers du Sud, 1953, pp. 178-179.


Afirmação que penso que vale a pena reter: “O culto da inteligência e a paixão mental afastam da verdade”. Pessoas que dão a impressão de serem muito inteligentes podem sê-lo de forma unidimensional, sem penetrar nas profundezas dos conceitos. Aqueles que de fato têm a intuição intelectual não têm e, portanto, não manifestam essa paixão e esse culto. (N. do E.)

A ciência moderna feriu de morte a religião

A ciência moderna teve por efeito, entre outros, ferir mortalmente a religião, trazendo à luz, concretamente, problemas que só o esoterismo pode resolver, e que nada resolve de fato, dado que o esoterismo não é escutado — e ele nunca foi tão pouco escutado. Diante desses problemas novos, a religião está desarmada, e ela toma emprestados, de forma inábil e como que tateando, os argumentos do adversário, o que a obriga a falsificar insensivelmente sua própria perspectiva e a cada vez mais negar-se a si própria; sua doutrina, por certo, não é atingida, mas as falsas opiniões tomadas emprestadas a seus negadores a devoram sorrateiramente “desde dentro”, como o testemunha a exegese moderna, o achatamento demagógico da liturgia, o darwinismo telhardiano ou a “arte sagrada” de obediência surrealista e “abstrata”.

Schuon, Regards sur les mondes anciens, L’Harmattan, 2016, p. 46.

A oração é a porta estreita

O que é o mundo, senão um escoamento de formas, e o que é a vida, senão uma taça que, aparentemente, se esvazia entre duas noites? E o que é a oração, senão o único ponto estável — feito de paz e de luz — neste universo de sonho, e a porta estreita que leva a tudo o que o mundo e a vida buscaram em vão?

Na vida de um homem, estas quatro certezas são tudo: o momento presente, a morte, o encontro com Deus, a eternidade. A morte é uma saída, um mundo que se fecha; o encontro com Deus é como uma abertura para uma infinitude fulgurante e imutável; a eternidade é uma plenitude de estar na pura luz; e o momento presente é, em nossa duração, um lugar quase inapreensível no qual já somos eternos — uma gota de eternidade no vai-e-vem das formas e das melodias.

A oração dá ao instante terrestre todo seu peso de eternidade e seu valor divino; ela é a barca santa que conduz, através da vida e da morte, à outra margem, ao silêncio de luz — mas no fundo não é ela que atravessa o tempo repetindo-se, é o tempo que, por assim dizer, se detém diante de sua unicidade já celeste.

Schuon, Les stations de la sagesse, L’Harmattan, 2011, p. 144.


Qu’est-ce que le monde, sinon un écoulement de formes, et qu’est-ce que la vie, sinon une coupe qui, apparemment, se vide entre deux nuits ? Et qu’est-ce que l’oraison, sinon le seul point stable – fait de paix et de lumière – dans cet univers de rêve, et la porte étroite vers tout ce que le monde et la vie ont recherché en vain ?

Dans la vie d’un homme ces quatre certitudes sont tout : le moment présent, la mort, la rencontre avec Dieu, l’éternité. La mort est une sortie, un monde qui se ferme ; la rencontre avec Dieu est comme une ouverture vers une infinitude fulgurante et immuable ; l’éternité est une plénitude d’être dans la pure lumière ; et le moment présent est, dans notre durée, un lieu presque insaisissable où nous sommes déjà éternels – une goutte d’éternité dans le va-et-vient des formes et des mélodies.

L’oraison donne à l’instant terrestre tout son poids d’éternité et sa valeur divine ; elle est la sainte barque qui conduit, à travers la vie et la mort, vers l’autre rive, vers le silence de lumière – mais ce n’est pas elle, au fond, qui traverse le temps en se répétant, c’est le temps qui s’arrête pour ainsi dire devant son unicité déjà céleste.

Schuon, Les stations de la sagesse, L’Harmattan, 2011, p. 144.