“O homem (….) foi posto no mundo para que haja alguém que possa retornar a Deus. É o que sugere, entre outros sinais, esta teofania ‘sobrenaturalmente natural’ que é o corpo humano: o homem sendo imago Dei, seu corpo simboliza necessariamente o retorno libertador à origem divina, e neste sentido ele é ‘lembrança de Deus’. É verdade que também o animal nobre – como o cervo, o leão, a águia, o cisne – exprime tal ou qual aspecto da majestade divina, mas ele não manifesta o retorno libertador da forma à essência; ele permanece na forma, de onde sua ‘horizontalidade’. O corpo humano, ao contrário, é “vertical”, ele é um sacramento, quer ele seja masculino ou feminino; a diferença dos sexos marca uma complementaridade de modo e não, evidentemente, uma divergência de princípio. A nudez sagrada – na India, por exemplo – exprime a exteriorização do que é o mais interior e, correlativamente, a interiorização do que é o mais exterior; “ é por isto que, nua, eu danço”, como dizia Lallâ Yogîshwarî após ter realizado o Si imanente. Os extremos se tocam; a forma natural pode veicular a essência sobrenatural, esta pode se manifestar por aquela.”
Frithjof Schuon, Le Jeu des Masques, L’Age d’Homme, Lausanne, 1992, p. 35.