Na santidade, uma alma se torna plenamente si mesma

“Se a vida espiritual envolve a superação de nosso ego, o estado sem-ego ou de ausência de ego não leva a uma espécie de prodígio trans-individual: ao alcançar a realização espiritual, uma alma não se torna simplesmente invisível ou anônima, ou uma cópia exata de outro ser sem ego: ela se torna plenamente ela mesma de um modo que permite que seja imortalmente reconhecida no Céu e na Terra. (*)

“De fato, a ausência de ego enfatiza o que é divinamente único em nossa personalidade, no sentido de que esta identidade é outorgada a nós por uma centelha da própria Divindade de uma maneira que permite a Deus manifestar-Se através do gênio de um temperamento individual e de traços particulares de caráter levados ao seu apogeu de perfeição graças à santidade, ou talvez também heroísmo; tais traços se tornam então como as facetas peculiares de um diamante através do qual a luz brilha em sua refulgência mais esplendorosa.

“(…) o que amamos em outra pessoa é sua personalidade qualitativa. Para dar um exemplo disso, é a “Lincoln-idade” de Abraham Lincoln que é tão atraente, isto é, sua expressão pessoal das virtudes de estoicismo, integridade, compaixão e nobreza de inteligência, combinadas com um senso de humor que desarma os espíritos; a síntese única dessas qualidades é o que determina a originalidade especial de Lincoln. Seu estoicismo, ademais, se torna ainda mais atraente em razão de seu sofrimento espiritual, um sofrimento enfrentado com doçura, dada a sua humildade e compaixão. Sem estes toques pessoais seu estoicismo seria sem dúvida menos atraente. Contudo, se não fosse pela espiritualização das qualidades e virtudes de Lincoln, estes atributos não teriam profundidade. De fato, a fé espiritual é a medida do homem.”

* * *

(*) Na Divina Comédia de Dante, o poeta reconhece todas as almas falecidas à medida que ele peregrina através de Inferno, Purgatório e, não menos importante, Céu.

Extraído de The Mystery of Individuality, de Mark Perry, World Wisdom Books, EUA, 2012, p. 121-22 (tradução por um colaborador).


Falando de Lincoln, podemos lembrar o seguinte extrato de Schuon:

“No oposto do falso gênio que é exaltado se situa o verdadeiro gênio que é ignorado [como tal]: entre os homens célebres, um exemplo disso é Lincoln, que deve uma grande parte de sua popularidade ao fato de ter sido tomado — e de ainda ser tomado — como uma encarnação do americano médio, tão médio quanto possível. O que ele não foi de forma alguma e nem podia ser, precisamente por ter sido um homem de gênio e um homem cuja inteligência e cuja capacidade — e também nobreza de caráter — superavam em muito o nível da média.”

Frithjof Schuon, Avoir un Centre, Maisonneuve & Larose, Paris, 1988, página 38. [Há uma tradução para o português: Ter um Centro, da Editora Polar.]

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