Fundamentalmente, todo amor é uma busca da Essência ou do Paraíso perdido; a melancolia doce ou poderosa que intervém frequentemente no erotismo poético ou musical é uma expressão dessa nostalgia de um Paraíso longínquo, e sem dúvida também da evanescência dos sonhos terrestres, cuja doçura, precisamente, é a de um Paraíso que não mais perecebemos, ou que ainda não percebemos. Os violinos ciganos evocam não somente os altos e baixos de um amor demasiadamente humano, eles cantam também, em suas melodias mais profundas e mais pungentes, a sede desse vinho celeste que é a essência da Beleza; toda música do amor reencontra, na medida de sua autenticidade e de sua nobreza, os sons ao mesmo tempo encantadores e liberadores da flauta de Krishna.
Frithjof Schuon, L’Esoterisme Comme Principe et Comme Voie, Dery-Livres, Paris, 1978, p. 134.
[Imagem: Companheira persuadindo Radha enquanto Krishna toca sua flauta. Lambagraon Gita Govinda, circa 1825.]