
“Os homens construíram ao seu redor um mundo feito de fenômenos artificiais, em cujo quadro deformante todos os seus erros e delitos têm a aparência de evidências ou de glórias; este mundo factício é de tal forma feito que o mal nele aparece como um bem, e o bem como um mal. Eles chamam de ‘realidade’ a este mundo de cenários e espelhos deformantes, e atribuem a este ídolo, ou a este bode expiatório, todas as responsabilidades, se sentem necessidade disso; e, se esta ‘realidade’ entra em colapso, apressam-se em declarar que Deus fez mal o mundo, e o mundo é o que Deus é, ou seria, ‘se Ele existisse’, e assim por diante. Quando se fala de fé e de obediência — e estas duas atitudes se esclarecem perfeitamente, para além de toda sentimentalidade, à luz da relação Substância-acidente —, os homens protestam que eles não são crianças irresponsáveis e sabem reconhecer o que é verdadeiro e o que não é; mas, quando se fala de sanções divinas, eles se apressam a dizer que não poderiam merecer nenhuma punição, porque foi Deus quem os fez o que eles são. Ora, é preciso escolher nossos argumentos: ou somos irresponsáveis e portanto fundamentalmente inocentes, mas então tiremos as consequências e sejamos crianças; ou somos soberanamente responsáveis e livres, mas então não pretendamos escapar de jure de todo ‘choque de retorno’ cuja causa deriva, precisamente, de nossa responsabilidade.”
Frithjof Schuon, Logique et Transcendance, Éditions Traditionnelles, Paris, 1982, pp. 93-94, tradução de MSA.
[Fotos: Indio Hupa com arpão para pesca, por Edward Curtis; Traffic Jam at Rama 4 Road, por Sry85 colhida na Wikimedia Commons neste link.]
Li para a família. Quanta clareza.