
No Céu, pode-se distinguir entre o Anjo supremo — ou o conjunto dos Arcanjos — e os outros anjos, aos quais se juntam os bem-aventurados; abaixo do Céu, na “roda dos nascimentos e das mortes”, o motor imóvel — como diria Aristóteles — não é senão o homem, o qual, sendo “feito à imagem de Deus”, abre-se para o Absoluto e para a Libertação. O homem representa ipso facto o Imutável e o Ilimitado, à maneira que o extremo limite da Manifestação universal torna possível; ele os representa potencialmente, indiretamente e passivamente no caso dos homens comuns, mas efetivamente, diretamente e ativamente em todo homem deificado; este é então central, não somente — como todo homem — em relação ao mundo animal, mas também — de uma maneira particular e por acréscimo — em relação à multidão dos homens comuns. Os “crentes” são como as gopis dançando em volta de Krishna e unindo-se a ele; enquanto ele toca — ele, o “motor imóvel” — a flauta salvadora.
Dizer que o homem deificado faz função de motor imóvel em relação a uma coletividade humana significa, implicitamente, que é a Revelação, a Tradição, o Símbolo divino ou o sagrado em geral que representa esse motor.
Mencionaremos como exemplo do Símbolo — ou do simbolismo — a circumambulação da Caaba (*), santuário primordial; nesse rito, o movimento é circular como a revolução dos planetas; outro exemplo é a Dança do Sol em torno de uma árvore que representa o eixo Céu-Terra; o movimento é então alternativamente centrípeto e centrífugo, como as fases da respiração, o que nos remete à dança das gopis com seus dois modos, a circumambulação e a união, precisamente. O símbolo universal da roda combina os dois gêneros de participação, os quais se referem, sobretudo, às duas relações fundamentais entre Atmâ e Mâyâ, a analógica e a unitiva: a manifestação da Potencialidade diversificante e da reintegração na Síntese original.
(*) Nota: Esse rito é muito mais antigo que o Islã, pois remonta a Abraão; na origem, os participantes ficavam nus — como os índios e como em parte as gopi —, o que o Islã modificou instituindo a seminudez dos peregrinos.
Frithjof Schuon, Le Jeu des Masques, l’Age d’Homme, Lausanne, 1992, pp. 62-63.,