A qualidade divina de um Livro Revelado se mostra por seu resultado nas almas e no mundo

Ler as Escrituras sagradas da humanidade com uma admiração pura é uma coisa, e reconhecer que nem sempre se é capaz de apreciá-las é outra; podemos, de fato, saber que um texto, sendo sagrado, deve ser perfeito sob o duplo aspecto do conteúdo e da forma, mas podemos não estar em condições de constatar isso, conforme as passagens com as quais se choca nossa ignorância, e que só o comentário tradicional nos tornaria inteligíveis. Aceitar com veneração “toda palavra que sai da boca de Deus” não exige, portanto, evidentemente, nenhuma hipocrisia piedosa; ou seja, nossa aquiescência, não somente de princípio, mas também de fato, só é inteligente e sincera com a condição de se basear em motivos reais, sem o que deveríamos aceitar toda dissonância devida a um erro de tradução, enquanto ignorássemos sua falsidade (…)

A divindade de um Livro revelado não pode ser aparente de uma maneira absoluta na forma terrestre, nem no simples conteúdo conceitual; a qualidade divina, e portanto sobrenatural, miraculosa e inimitável, que só uma parcialidade piedosa atribui abusivamente às palavras, é na realidade de uma ordem totalmente diferente: ela está em primeiro lugar na riqueza de significações — e isto não poderia ser imitado — e depois naquilo que poderíamos chamar de substância divina subjacente, a qual é sensível através da expressão formal, e se manifesta notadamente por seu resultado nas almas e no mundo, no espaço e no tempo.

Extraído de Forme et Substance dans les Religions, de Frithjof Schuon, Dervy-Livres, Paris, 1975, pp. 155, 156, capítulo “Algumas dificuldades dos textos sagrados”. Há tradução brasileira: Forma e Substância nas Religiões, Ed. Sapientia, 2010.

Ilustração: Página do Bhagavad Gita, em manuscrito do século 18 ou 19, em escrita Gurmukhi. Fonte: Wikimedia Commons.

#frithjofschuon #sophiaperennis

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