Quando multiplicamos 3 por 4, o produto é 12; não é nem 11, nem 13, mas exprime exatamente as potências conjugadas do multiplicando e do multiplicador. Da mesma forma — metaforicamente falando —, quando se multiplica a religião cristã pela humanidade ocidental, o produto é a Idade Média; não é nem a época das invasões bárbaras, nem a do Renascimento. Quando um organismo vivo atingiu seu crescimento máximo, ele é o que ele deve ser; ele não deve nem deter-se no estado infantil, nem continuar a crescer. A norma não é a hipertrofia, ela é o limite exato do desenvolvimento normal. E o mesmo vale para as civilizações.

Se comparamos São Luís com Luís XIV, podemos evidentemente limitarmo-nos a dizer que eles representam épocas diferentes, o que é quer um truísmo, quer um erro; é um truísmo afirmar que cada homem vive em sua época, e é um erro declarar que a diferença entre os dois reis de França, ou, mais precisamente, entre os mundos nos quais eles vivem e que eles encarnam, não é mais que uma diferença de tempo. A diferença real é que São Luís representa o Cristianismo ocidental no pleno desenvolvimento de suas possibilidades normais e normativas, enquanto que Luís XIV representa outra coisa, a saber, esse sucedâneo de religião, ou de cristandade, que é a pretensa “Civilização”; o Cristianismo ainda está incluído nela, por certo, mas a ênfase está em outra parte, ela está posta num humanismo titanesco e mundano, e estranhamente hostil à natureza, conforme o exemplo romano.

As formas exteriores são critérios, sob este aspecto. É quer falso, quer insuficiente pretender que São Luís portava as vestes de sua época e que Luís XIV fazia o mesmo, mutatis mutandis; a verdade é que São Luís portava as vestes de um rei cristão ocidental, enquanto Luís XIV portava as de um monarca já mais “civilizado” do que cristão, o primeiro epíteto referindo-se evidentemente ao “civilizacionismo” e não à civilização no sentido geral do termo. A aparência de São Luís é a de uma ideia que chegou ao termo de seu amadurecimento; ela marca não uma fase, mas uma coisa acabada, uma coisa que é inteiramente o que ela deve ser [1]. A aparência de um rei da Renascença e da época seguinte é a de uma fase, não de uma coisa; e não é bem de uma fase que deveríamos falar, aqui, mas de um episódio extravagante; enquanto não temos nenhuma dificuldade de levar a sério a aparência não só de um Luís IX, mas também a de um faraó ou de um imperador da China, ou de um chefe pele-vermelha, se se quiser, é-nos impossível escapar à impressão de ridículo que emana dos célebres retratos de certos reis. Esses retratos, ou melhor, essas poses e esses atavios que os retratos fixam sem humor e sem piedade, deveriam, acreditava-se, combinar todas as sublimidades imagináveis, e inconciliáveis numa só fórmula, pois não se pode ter tudo ao mesmo tempo; não se pode juntar numa mesma pessoa o esplendor hierático e quase incorpóreo de um imperador cristão com o esplendor nu e paradisíaco de um heroi antigo.

São Luís, ou qualquer outro príncipe cristão de sua época, poderia figurar entre os reis e as rainhas — sob a forma de colunas — da catedral de Chartres; os reis mais tardios e mais marcados pela mundanidade invasiva seriam impensáveis como estátuas sagradas [2]. Isso não quer dizer que todos os príncipes da Idade Média tenham sido individualmente melhores do que os do Renascimento ou das épocas seguintes, mas, evidentemente, não é essa a questão; trata-se aqui, unicamente, da atitude e da roupagem enquanto manifestações adequadas de uma norma ao mesmo tempo religiosa e étnica, portanto de um ideal que alia o divino ao humano. O rei, assim como o pontífice, não é somente um funcionário público, ele é também, por sua própria posição central, um objeto de contemplação, no sentido do termo sânscrito darshan: beneficiar-se do darshan de um santo é penetrar-se dos imponderáveis de sua aparência, se não do simbolismo de suas vestes pontificais, conforme o caso. São Luís é um dos soberanos que encarnam espiritualmente o ideal que eles representam por assim dizer liturgicamente, enquanto que a maior parte dos outros príncipes medievais representa esse ideal ao menos da segunda maneira, o que, repetimos, está longe de não ter importância do ponto de vista da inteligibilidade concreta da função real, com os subentendidos ao mesmo tempo terrestres e celestes.
Notas
[1] A aparência de um Clóvis ou de um Carlos Magno poderia ser a de um germano perfeito ou de um monarca perfeito, mas não podia resumir a Cristandade ocidental numa época em que os elementos constitutivos desta ainda não se tinham combinado e interpenetrado.
[2] As estátuas-colunas de Chartres têm o valor de um critério de ortodoxia formal, assim como de uma iconostase; a exibição de individualismo e de profanidade não poderia encontrar nelas nenhum lugar.
Frithjof Schuon, extrato do capítulo “Fenomenologia estética e teúrgica”, de O Esoterismo com Princípio e como Via, traduzido da edição francesa de 1978, pp. 195-197, para esta publicação.
Muito obrigada!!