A essência do ser humano é “natureza do Buda”

Quando se parte da ideia sumária — voltada unicamente para uma certa eficácia — de que o mundo  é impermanente  e nada mais, que ele é composto de “categorias” ou de “átomos” cambiantes e impermanentes e que só o Nirvana possui a permanência, esquece-se, estranhamente — a menos que se ache supérfluo pensar nisso — que seria impossível escapar à impermanência ou mesmo simplesmente conceber a ideia de impermanência e de libertação se não houvesse um elemento de permanência no impermanente ou de absolutez no relativo. Inversamente e a priori, é preciso que haja um elemento de relatividade no Absoluto, sem o que não existiriam nem o relativo, nem, com maior razão, a noção de relatividade e a saída do relativo; é o que mostra à sua maneira o símbolo do Yin-Yang, que mencionamos muitas vezes noutras ocasiões. 

Ora, esse elemento de absolutez ou de permanência no seio mesmo do contingente e do impermanente é precisamente nossa própria essência, que é “natureza do Buda”; recuperar nossa própria natureza fundamental é realizar a Permanência e escapar à “roda da existência”.

Frithjof Schuon, “Observações elementares sobre o enigma do Koan”, capítulo do livro O Olho do Coração (L’Oeil du Coeur, Dervy Livres, Paris, 1974). Imagem: estátua de Buda em Gal Vihara, Sri Lanka. Foto de Bernard Gagnon, via Wikimedia Commons. #frithjofschuon #sophiaperennis