Nossa identidade profunda é nossa relação com Deus; nossa máscara é a forma que devemos assumir no mundo das formas, do espaço, do tempo. Nossa ambiência, assim como nossa personalidade, é necessariamente do domínio do particular, não do Universal; do ser possível, não do Ser necessário; do bem relativo, não do Sumo Bem. Não é o caso, portanto, de se se deixar perturbar pelo fato de ser determinado indivíduo e não um outro. Sendo uma pessoa — sob pena de inexistência —, só se pode ser uma pessoa particular, ou seja, “tal ou qual pessoa” e não a “pessoa como tal”; esta só se situa no mundo das Ideias divinas, e “tal pessoa” é um reflexo dela na contingência.
O que importa acima de tudo é manter, a partir do ser possível, o contato com o Ser necessário; com o Sumo Bem, que é a essência de nossos valores relativos, e cuja natureza misericordiosa comporta o desejo de nos salvar de nós mesmos; de nos libertar fazendo-nos participar de seu mistério ao mesmo tempo imutável e vivo.
Frithjof Schuon, extrato de O Jogo das Máscaras, livro inédito em português.