
Um exemplo clássico do dogma ingênuo é a história bíblica da criação, e depois a do primeiro par humano: se somos céticos, o infantilismo do sentido literal das palavras é para nós um obstáculo, mas, se somos intuitivos — e todo homem deveria sê-lo —, somos sensíveis às verdades irrefutáveis das imagens; sentimos que trazemos essas imagens em nós mesmos, que elas têm uma validade universal e intemporal. A mesma observação se aplica aos mitos e mesmo aos contos de fadas: ao descrever os princípios — ou situações — que dizem respeito ao universo, eles descrevem ao mesmo tempo realidades psicológicas e espirituais da alma; e, nesse sentido, pode-se dizer que os simbolismos da religião ou da tradição popular são para nós algo de experiência corrente, tanto na superfície como em profundidade.
Schuon, Approches du phénomène religieux, éd. Le Courrier du Livre, 1984, p. 66