O que falta no mundo atual é um conhecimento penetrante e global da natureza das coisas; as verdades fundamentais estão sempre acessíveis, mas não poderiam se impor àqueles que se recusam a levá-las em consideração.
É evidente que se trata aqui não dos dados totalmente exteriores que a ciência experimental pode nos fornecer, mas de realidades que essa ciência não maneja e não pode manejar, e que nos são transmitidas por canais muito diferentes, particularmente os do simbolismo mitológico e metafísico, sem falar da intuição intelectual, cuja possibilidade de princípio reside em todo homem.
A linguagem simbólica das grandes tradições da humanidade pode parecer árdua e desconcertante para certas mentes, mas ela é, não obstante, inteligível à luz dos comentários ortodoxos; o simbolismo, há que insistir nisto, é uma ciência real e rigorosa, e nada é mais aberrante do que acreditar que sua aparente ingenuidade provém de uma mentalidade rudimentar e “prelógica”.
Essa ciência, que podemos qualificar de “sagrada”, não poderia se adaptar ao método experimental dos modernos; o domínio da revelação, do simbolismo e da intelecção pura obviamente transcende os planos físico e psíquico e, por consequência, situa-se além do domínio dos métodos ditos científicos. Se pensamos não poder aceitar a linguagem do simbolismo tradicional porque ela nos parece fantástica e arbitrária, isto mostra que ainda não compreendemos essa linguagem, e não, certamente, que a tenhamos superado.
Schuon, Le jeu des masques, L’Âge d’Homme, 1992, p. 104.
Ce qui manque dans le monde actuel, c’est une connaissance pénétrante et globale de la nature des choses ; les vérités fondamentales sont toujours accessibles, mais elles ne sauraient s’imposer à ceux qui refusent de les prendre en considération.
Il va de soi qu’il s’agit ici, non des données tout extérieures que la science expérimentale peut nous fournir, mais de réalités que cette science ne manie pas, et ne peut pas manier, et qui nous sont transmises par de tout autres canaux, ceux du symbolisme mythologique et métaphysique notamment, sans parler de l’intuition intellectuelle, dont la possibilité de principe réside en tout homme. Le langage symbolique des grandes traditions de l’humanité peut paraître ardu et déconcertant pour certains esprits, mais il est néanmoins intelligible à la lumière des commentaires orthodoxes ; le symbolisme, il faut y insister, est une science réelle et rigoureuse, et rien n’est plus aberrant que de croire que son apparente naïveté provient d’une mentalité fruste et « prélogique ». Cette science, que nous pouvons qualifier de « sacrée », ne saurait s’adapter à la méthode expérimentale des modernes ; le domaine de la révélation, du symbolisme, de l’intellection pure, transcende de toute évidence les plans physique et psychique et il se situe par conséquent au-delà du domaine des méthodes dites scientifiques. Si nous pensons ne pas pouvoir accepter le langage du symbolisme traditionnel parce qu’il nous apparaît comme fantastique et arbitraire, cela montre que nous n’avons pas encore compris ce langage, et certes non que nous l’avons dépassé.
Schuon, Le jeu des masques, L’Âge d’Homme, 1992, p. 104.