Dizer que o homem, e por, consequência, o corpo humano, é “feito à imagem de Deus” significa a priori que ele manifesta algo de absoluto e, por isso mesmo, de ilimitado e de perfeito. O que distingue antes de tudo a forma humana das formas animais é sua referência direta à absolutez, antes de tudo por sua posição vertical; daí resulta que, se as formas animais podem ser superadas — elas o são pelo homem, precisamente —, a forma humana não poderia sê-lo; ela marca não somente o ápice das criaturas terrestres, mas também — e por isso mesmo — a saída de sua condição, ou do samsâra, como diriam os budistas. Ver o homem é ver não somente a imagem de Deus, mas também uma porta aberta para a bodhi, a iluminação libertadora, ou, digamos, para uma fixação bem-aventurada na proximidade divina.
N. do E.: Schuon usa frequentemente o termo “homem” segundo seu sentido original, que se refere a ambos os membros, masculino e feminino, do gênero humano — ou seja, também à mulher. Em latim, temos homo (pessoa do gênero humano), vir (ser humano masculino) e femina (ser humano feminino). De vir vieram “varão”, “viril”, “varonil” e outras palavras de nosso léxico. O termo português “mulher” vem, evidentemente, não de femina, mas do latim mulier.
Schuon, Du Divin à l’humain, Le Courrier du Livre, 1981, p. 91.
Dire que l’homme, et par conséquent le corps humain, est « fait à l’image de Dieu », signifie a priori qu’il manifeste quelque chose d’absolu et par là même d’illimité et de parfait. Ce qui distingue avant tout la forme humaine des formes animales, c’est sa référence directe à l’absoluité, tout d’abord par sa position verticale ; il en résulte que, si les formes animales peuvent être dépassées, – elles le sont par l’homme précisément, – la forme humaine ne saurait l’être ; elle marque non seulement le sommet des créatures terrestres, mais aussi – et par là même – la sortie hors de leur condition, ou hors du samsâra comme diraient les bouddhistes. Voir l’homme, c’est voir, non seulement l’image de Dieu, mais aussi une porte ouverte vers la bodhi, l’illumination libératrice, ou disons vers une bienheureuse fixation dans la proximité divine.
Schuon, Du Divin à l’humain, Le Courrier du Livre, 1981, p. 91.