Ouve-se com demasiada frequência censurarem o “sentimentalismo” de homens que protestam, não contra um mal necessário, mas contra uma baixeza; essa censura, mesmo se coincide acidentalmente com a verdade do ponto de vista simplesmente psicológico, é no entanto totalmente injustificada enquanto pretende reduzir reações da inteligência a suas possíveis concomitâncias emotivas.
Pois: que os fortes ataquem os fracos, é um mal por vezes inevitável e mesmo sob certos aspectos uma lei natural, com a condição, todavia, de que os meios não violem as normas da natureza como no caso das guerras mecanizadas, e que a força não sirva ideias intrinsecamente falsas, o que seria mais ainda uma anomalia [*]; mas que os fortes esmaguem os fracos por meio de uma hipocrisia interesseira e de baixezas que dela resultam, isto não é nem natural nem inevitável, e é gratuito e mesmo infame tachar de “supersensibilidade” toda opinião que condena esses métodos; o “realismo” político pode justificar as violências, jamais as vilanias.
[*] É, portanto, sobretudo nas guerras tribais ou feudais que pensamos, ou ainda nas guerras de expansão das civilizações tradicionais. Alguns objetarão que sempre houve máquinas e que um arco não é outra coisa, o que é tão falso quanto pretender que um círculo é uma esfera ou que um desenho é uma estátua. Há aí uma diferença de dimensões cujas causas são profundas e não quantitativas.
Frithjof Schuon, “Reflexões sobre o sentimentalismo ideológico”,
in A Transfiguração do Homem, Sapientia, 2008, pág. 31. Livro disponível neste website.