Estar só com Deus — sem amargura para com ninguém, isto é uma condição formal — é uma coisa maravilhosa; essa solidão que vive da invocação do Nome divino. Nossa vida está aí diante de nós, e devemos vivê-la; não podemos fugir dela. Eu sei onde está a dificuldade: é mais fácil — ou menos difícil — estar só numa ilha deserta do que estar entre homens que não nos entendem. Mas, se não temos escolha, então somos forçados a aceitar o destino que Deus nos deu e fazer dele o melhor que podemos. Por meio da oração podemos transformar o chumbo em ouro, alquimicamente falando; podemos mesmo transformar, em certa medida, aqueles que são parte de nossa vida.
A sua vida não pode não ter sentido aos olhos de Deus, pois você existe e tem inteligência e livre-arbítrio. Devemos começar com o que é certo, e não perder tempo estando ansiosos e fazendo constantes avaliações em relação ao que é incerto; ora, o que é absolutamente certo é a morte, o encontro com Deus, a eternidade; e depois o momento presente, esse que vivenciamos neste instante mesmo e que vivenciamos sempre, e no qual somos livres para escolher Deus, lembrando d’Ele [*]. As coisas que são incertas devem estar subordinadas às que são certas — que são espirituais — e não o inverso.
*Nota: Schuon refere-se à invocação de um Nome divino ou fórmula sagrada, com autorização e sob orientação de um mestre ou diretor espiritual. Essa invocação é chamada, no Sufismo, de “lembrança de Deus” ou “menção de Deus”. Está presente em todas as tradições religiosas, sob diferentes nomes.
Schuon, extrato de carta de c. 1960, Letters of Frithjof Schuon – Reflections on the Perennial Philosophy, org. Michael Fitzgerald, World Wisdom, EUA, 2022, p. 111.