O nascimento de Cristo, numa visão mística

Tomamos a liberdade de, excepcionalmente, publicar algo que não foi escrito por Frithjof Schuon ou por outro autor perenialista.

* * *

“A Santíssima Virgem passou o Sabbath na gruta de Natal, em oração e meditação e em grande fervor espiritual. José saiu várias vezes, provavelmente para ir à sinagoga em Belém. Eu os vi compartilhando o alimento que havia sido preparado no dia anterior, e rezando juntos. Na tarde do Sabbath, quando é costume judeu sair para uma caminhada, José levou a Santa Virgem através do vale, por trás da gruta, até o túmulo de Maraha, ama-de-leite de Abraão. Passaram algum tempo nesta gruta, que era mais ampla que a gruta de Natal, e na qual José tinha preparado um lugar para Nossa Senhora sentar-se. O resto do tempo eles passaram sob a árvore sagrada perto da gruta, em prece e meditação, até pouco após o fim do Sabbath, quando José a trouxe de volta.

“Maria tinha dito a São José que aquela noite, à meia-noite, seria a hora do nascimento da criança, pois então os nove meses desde a Anunciação estariam completos. Ela lhe pediu para fazer todo o possível de sua parte de modo que pudessem mostrar, à criança prometida por Deus e concebida sobrenaturalmente, tanta honra quanto lhes estava ao alcance. Pediu-lhe também que se juntasse a ela em orações pelas pessoas de coração endurecido que lhes tinham recusado abrigo.

“José sugeriu à Santa Virgem que poderia chamar algumas mulheres piedosas que conhecia em Belém, para que viessem auxiliá-la. Ela recusou, contudo, dizendo que não precisava de ajuda humana. Pouco antes do fim do Sabbath, José foi a Belém, e tão logo o Sol se pôs comprou rapidamente algumas coisas necessárias —um banco, uma mesinha baixa, algumas vasilhas pequenas e algumas frutas secas e uvas passas. Munido de tais coisas, apressou-se a voltar à gruta e então ao túmulo de Maraha, e levou a Santa Virgem de volta à Gruta de Natal, onde ela se deitou em seu leito, no canto leste. José preparou mais comida, e eles comeram e rezaram juntos. Ele então separou completamente seu local de dormir do resto da caverna, cercando-o com estacas e pendurando nelas tapetes que encontrara na gruta. Alimentou o burro, que estava à esquerda da entrada da Gruta, perto da parede; encheu então a manjedoura com juncos e grama ou limo e estendeu por cima uma coberta, que pendia das bordas.

“Ao ter-lhe a Santa Virgem dito que a hora se aproximava e que devia ir para seu quarto e rezar, José pendurou mais algumas lâmpadas incandescentes na Gruta e foi para fora, já que tinha ouvido um barulho. Lá, encontrou a jumenta, que até então tinha estado andando livremente pelo vale dos pastores. Ele a amarrou sob a cobertura em frente à Gruta e lhe serviu forragem.

“Quando José voltou para dentro e se deteve à entrada de seu local de dormir olhando para a Santa Virgem, viu-a com o rosto voltado para leste, ajoelhada no leito, de costas para ele. Viu-a como que rodeada por chamas — toda a gruta estava como que cheia de luz sobrenatural. José a contemplou como Moisés fizera com a Sarça Ardente; então, entrou em sua pequena cela cheio de santo temor e prostrou-se, o rosto na terra, em oração.

“Eu vi a radiância em torno de Nossa Senhora tornar-se cada vez maior. A luz das lâmpadas que José acendera já não era visível. Nossa Senhora ajoelhou-se em seu tapete, em um amplo manto ali estendido, o rosto voltado para leste. À meia-noite, estava tomada em um êxtase de oração. Eu a vi levantada do chão, de modo que se podia ver o chão sob ela. Suas mãos estavam cruzadas sobre o peito. A radiância à sua volta aumentou; tudo, mesmo coisas sem vida, estavam num alegre movimento interior — as rochas do teto, das paredes e do solo da gruta tornaram-se como vivas àquela luz. Então eu já não vi o teto da gruta; um caminho de luz se abriu acima de Maria, subindo com glória sempre maior em direção às alturas do céu. Nesse caminho de luz, havia um maravilhoso movimento de glórias interpenetrando-se umas às outras, e, conforme se aproximaram, pareciam mais claramente sob a forma de coros de espíritos celestes. Enquanto isso, a Santa Virgem, tomada em êxtase, estava agora olhando para baixo, adorando seu Deus, cuja mãe ela tinha-se tornado e que jaz no solo à sua frente, sob a forma de um indefeso recém-nascido. Eu vi nosso Redentor como uma criança pequenina, brilhando com uma luz que superava toda a radiância circundante, e jazendo no tapete, junto aos joelhos da Santa Virgem. Pareceu-me que ele era a princípio bem pequeno e então cresceu aos meus olhos. Mas o movimento da intensa radiância era tamanho que não posso dizer ao certo como vi tudo.

“A Santa Virgem permaneceu por algum tempo envolta em êxtase. Eu a vi cobrir o Menino com um pano, mas a princípio ela não O tocou ou pegou nos braços. Após certo tempo eu vi o Menino Jesus se mover, e depois eu O ouvi chorar. Então pareceu que Maria voltava a si, e pegou o Menino do tapete, envolvendo-O no pano que O cobria, e com Ele aos braços trouxe-O para si. Ficou ali, sentada, completamente envolvida, ela e o Menino, em seu véu, e penso que ela amamentou o Redentor. Eu vi anjos à sua volta em forma humana, prostrando-se e adorando o menino. Talvez fosse uma hora após o nascimento quando Maria chamou São José, que ainda estava prostrado em oração. Quando se aproximou, ele se lançou com o rosto ao chão, em devota alegria e humildade. Foi só quando Maria lhe pediu que carregasse, junto ao coração, em alegria e gratidão, o santo presente de Deus Altíssimo, que ele se ergueu, pegou nos braços o Menino Jesus, e louvou a Deus com lágrimas de felicidade.”

(Extraído de livro de Anna Catharina Emmerich, mística alemã do século XIX, com suas visões da vida da Virgem Maria. No Brasil, foi publicado com o título de Santíssima Virgem Maria, pela editora MIR.)

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