“No que diz respeito à nudez sagrada, eu diria que ela se baseia na correspondência analógica entre o ‘mais exterior’ e o ‘mais interior’: o corpo é então considerado como o ‘coração exteriorizado’, e o coração, por seu lado, ‘absorve’, por assim dizer, a projeção corporal; ‘os extremos se tocam’. Diz-se, na India, que a nudez favorece a irradiação dos fluídos espirituais; e também que a nudez feminina em particular manifesta Lakshmî e, por esse fato, tem um efeito benéfico sobre o ambiente. De maneira totalmente geral, a nudez exprime – e ‘realiza’ virtualmente – um retorno à essência, à origem, ao arquétipo, portanto ao estado celeste: ‘E é por isso que, nua, eu danço’, como dizia Lallâ Yogeshwarî.”
(Carta de Frithjof Schuon de 6 de fevereiro de 1992.)
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Notas
a) Na foto acima, Swami Bhaskarananda Saraswati (1833-1899). Sannyasin e santo hindu. No Hinduísmo, a nudez representa a pureza.
b) Lallâ Yogeshwarî, ou Lalleshwari, viveu de 1320 a 1392. Foi uma mística e poeta espiritual hindu.
c) Numa das versões do mito da vinda de Pte-San-Win, a Mulher Bisão Branco, que trouxe aos índios das pradarias o rito do cachimbo sagrado, ela estava nua. Dois homens a viram. Um teve pensamentos impuros e foi transformado em cinzas. O outro, de alma pura, recebeu dela o cachimbo e o rito. Os dois homens podem representar os dois lados em cada um de nós – “são dois no homem”, disse São Paulo –, um que deve ser eliminado, outro que deve ser espiritualmente transformado.