A fascinante combinação de heroicidade combativa e estoica e de estilo sacerdotal conferia ao Índio das Planícies e da Florestas** uma espécie de majestade ao mesmo tempo aquilina e solar, de onde essa beleza fortemente original e insubstituível que se liga ao pele-vermelha e contribui para seu prestígio de guerreiro e de mártir. Como os japoneses dos tempos dos samurais, o pele-vermelha era profundamente artista em sua própria manifestação pessoal: além do fato de que sua vida era um jogo perpétuo com o sofrimento e com a morte e, por esse fato, um tipo de karma-yoga cavaleiresco, ele sabia dar a esse estilo espiritual um revestimento estético de uma expressividade insuperável.
Um elemento que pode ter dado a impressão de que o índio é um individualista — por princípio e não somente de facto — é a importância crucial que assume para ele o valor moral do homem, o caráter, se se quer, de onde o culto do ato. O ato heroico e silencioso se opõe à palavra vã e prolixa do pusilânime; o amor ao segredo, a reticência em entregar o sagrado em discursos fáceis que o enfraquecem e o dilapidam, se explicam por isso. Todo o caráter do índio se deixa definir, em suma, por estas duas palavras, se tais elipses se permitem: ato e segredo; ato fulgurante, se necessário, e segredo impassível. Como uma rocha, o índio de antigamente repousava em si mesmo, em sua personalidade, para então traduzi-la em ato com a impetuosidade do raio; mas, ao mesmo tempo, ele permanecia humilde diante do Grande Mistério cuja natureza circundante era, para a ele, a mensagem permanente.
*Sitting Bull foi um chefe, guerreiro e medicine-man dos Hunkpapa Sioux. A foto acima foi feita por volta de 1883. (N. do E.)
** Da América do Norte. (N. do E.)
Extraído de “Chamanisme Peau-rouge”, em Regards sur les Mondes Anciens, de Frithjof Schuon, Éditions Traditionnelles, Paris, 1980. [Este livro foi publicado no Brasil com o título O Homem no Universo.]