A vocação sine qua non do homem é a de ser espiritual. A espiritualidade se exerce nos planos que constituem o homem, a saber, a inteligência, a vontade, a afetividade, a produção: a inteligência humana é capaz de transcendência, de absoluto, de objetividade; a vontade humana é capaz de liberdade, portanto de conformação ao que a inteligência apreende; a afetividade humana, que se une a cada uma das faculdades precedentes, é capaz de compaixão e de generosidade, pelo fato da objetividade do espírito humano, a qual faz a alma sair do egoísmo animal.
Por fim, há esta capacidade especificamente humana que é a produção, e é por causa dela que o homem foi chamado de homo faber, não somente de homo sapiens: é a capacidade de produzir utensílios e de construir habitáculos e santuários; de, se necessário, confeccionar vestimentas e criar obras de arte; e de combinar espontaneamente, nessas criações, o simbolismo e a harmonia; a linguagem desta pode ser simples ou rica, de acordo com as necessidades, as perspectivas, os temperamentos; a decoração também tem sua razão de ser, do ponto de vista do simbolismo assim como do da musicalidade.
Isso quer dizer que esta quarta capacidade deve, também ela, ter um conteúdo espiritual, sob pena de não ser humana; além disso, ela não faz senão exteriorizar as três precedentes, adaptando-as a necessidades materiais ou culturais, ou, digamos simplesmente: projetando-as na ordem sensível, de outra forma que não só pelo discurso racional e pela escrita.
Nós, homens exilados na terra — a menos que possamos nos contentar com essa sombra do Paraíso que é a natureza virgem —, devemos criar para nós mesmos uma ambiência que, por sua verdade e por sua beleza, evoque nossa origem celeste e, por isso mesmo, nossa esperança.
O homem, em criando, deve se projetar na matéria segundo sua personalidade espiritual e ideal, não segundo seu estado de queda, a fim de poder, a seguir, repousar sua alma e seu espírito numa ambiência que lhe relembre doce e santamente aquilo que ele deve ser.
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Extraído de L’Ésoterisme comme Principe et comme Voie, de Frithjof Schuon, publicado por Dervy-Livres, Paris, 1978 (p. 192).
Imagem: mulher navajo tecendo, em foto de Charles Pierce, circa 1901.