A ingenuidade de certos conceitos que na prática são dogmáticos se explica, por um lado, pelo simbolismo natural das coisas e, por outro, por uma sábia preocupação de proteção; pois, se a verdade tem por função, no fim das contas, divinizar o homem, ela não poderia ter ao mesmo tempo a função de desumanizá-lo. Por exemplo, ela não poder ter o objetivo de nos levar a entrar nos horrores do infinitamente grande, nem nos do infinitamente pequeno, como quer a ciência moderna; para chegar a Deus, temos o direito de permanecermos crianças, e a bem dizer não temos escolha, dados os limites de nossa natureza.
Um exemplo clássico do dogma ingênuo é a história bíblica da criação, e depois a do primeiro casal humano: se somos céticos — portanto atrofiados —, choca-nos a infantilidade do sentido literal; mas, se somos intuitivos — e todo homem deveria sê-lo —, somos sensíveis às verdades irrefutáveis das imagens; sentimos que portamos essas imagens em nós mesmos, que elas têm uma validade universal e intemporal. A mesma observação se aplica aos mitos e mesmo aos contos de fadas: descrevendo os princípios — ou situações — que dizem respeito ao universo, eles descrevem ao mesmo tempo realidades psicológicas e espirituais da alma; e, em certo sentido, pode-se dizer que os simbolismos da religião ou da tradição popular são para nós algo de experiência corrente, na superfície e em profundidade.
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Extraído de Approches du Phénomène Religieux (Abordagens do Fenômeno Religioso), de Frithjof Schuon, Le Courrier du Livre, Paris, 1984, pp. 66-67. Este livro não tem tradução para o português.
Imagem: Adão e Eva, mosaico da Catedral de Monreale, Sicília, Itália.