“A Virgem identifica-se àquele que invoca…”

Pintura de Catherine Schuon.

A representação, nas imagens da Natividade, do boi, animal dócil, e do asno, animal teimoso, é suscetível da seguinte interpretação: o boi, que, aliás, era sagrado para os antigos semitas, está armado de chifres e alia em si a doçura e a força; ele representa, na invocação (*), o “guardião do santuário”: é o espírito de submissão, de fidelidade, de perseverança, o esforço de concentração; o asno, animal “profano”, cujo zurro é chamado de “invocação de Satã” (dhikr ash-Shaytân), é a testemunha satânica na invocação, ou seja, o espírito de insubmissão e de dissipação.

Nesta mesma representação, a Virgem (…) identifica-se àquele que invoca; São José, pai adotivo de Cristo, representa a presença invisível do mestre espiritual na invocação; os visitantes, resumidos de certa forma nos Reis magos, representam o que se poderia chamar “homenagem cósmica” que aflui em direção ao homem santificado, e de que as Escrituras hindus falam ao dizer que “os Céus resplendecem da glória do Mukta” (“libertado”), o que sugere uma aproximação com a adoração de Adão pelos anjos, no Alcorão; por fim, a noite que envolve a cena da Natividade, mas que é iluminada pela estrela, a testemunha divina, representa a morte iniciática ou a solidão, ou ainda a extinção da mente, estado cujo suporte ritual é a khalwah ou o “retiro” das escolas súfis. Por outro lado, a noite da Natividade, assim como a khalwah, correspondem à Laylat al-qadr do Alcorão.

(*) A invocação de um Nome Divino ou de uma fórmula revelada, conhecida como dhikr no Islã e japa-yoga no Hinduísmo, e presente em todas as tradições.

Schuon, extrato do artigo “Comunhão e Invocação”, inédito em português.


La figuration, sur les images de la Nativité, du boeuf, animal docile, et de l’âne, animal têtu, est susceptible de l’interprétation suivante: le boeuf, qui était d’ailleurs sacré chez les anciens Sémites, est armé de cornes et allie en lui la douceur et la force; il représente, dans l’invocation, le “gardien du sanctuaire”: c’est l’esprit de soumission, de fidélité, de persévérance, l’effort de concentration; l’âne, animal “profane” dont le cri est appelé “invocation de Satan” (dhikr esh-Shaytân), est le témoin satanique dans l’invocation, c’est-à-dire l’esprit d’insoumission et de dissipation.

Dans cette même figuration, la Vierge (…) s’identifie à celui qui invoque; Saint-Joseph, père adoptif du Christ, représente la présence invisible du maître spirituel dans l’invocation; les visiteurs, résumés en quelque sorte dans les Rois mages, représentent ce qu’on pourrait appeler “l’hommage cosmique” qui afflue vers l’homme sanctifié, et dont parlent les Écritures hindoues en disant que “les Cieux resplendissent de la gloire du Mukta” (“délivré”), ce qui suggère un rapprochement avec l’adoration d’Adam par les anges dans le Qoran; enfin, la nuit qui enveloppe la scène de la Nativité, mais qui est illuminé par l’étoile, le témoignage divin, représente la mort initiatique ou la solitude, ou encore l’extinction du mental, état dont le support rituel est la khalwah ou “retraite” des écoles çûfiques. D’autre part, la nuit de la Nativité ainsi que la khalwah correspondent à la Laylat el-qadr du Qoran.

Schuon, extrait de l’article “Communion et Invocation”.

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