Prefácio do livro Nos Caminhos da Religião Perene, de Frithjof Schuon | Todos os direitos reservados para World Wisdom Inc. Proibida a reprodução total ou parcial esta obra sem autorização dos detentores dos direitos. | Tradução de Alberto Queiroz / Revisão de Adriana Bonadio e Alberto Queiroz. | Publicado no website FSchuon.net em dezembro de 2015. | Esta tradução portuguesa desta obra não foi publicada em papel.
Índice
Página de rosto | Prefácio | Premissas epistemológicas | Dimensões, modos e graus da Ordem divina | Especulação confessional: intenções e impasses | Obstáculos da linguagem da fé | Notas de tipologia religiosa | Enigma e mensagem de um esoterismo | Escatologia universal | Síntese e conclusão
Prefácio
Em toda a nossa obra, tratamos da Religião Perene, explicita ou implicitamente, e em conexão com as diversas religiões que por um lado a velam e por outro lado a fazem transparecer; e cremos ter fornecido uma visão homogênea e suficiente dessa Sophia universal e primordial, malgrado nossa maneira descontínua e esporádica de a ela nos referirmos. Mas a Sophia perennis é evidentemente inesgotável e não tem limites naturais, mesmo numa exposição sistemática como o Vêdanta; esse caráter de sistema, aliás, não é nem uma vantagem, nem uma desvantagem – ele pode ser uma coisa ou outra, conforme o conteúdo; a verdade é bela sob todas as suas formas. De fato, não há nenhuma grande doutrina que não seja um sistema, e nenhuma que se exprima de maneira exclusivamente sistemática.
Como é impossível esgotar tudo o que se presta à expressão, e como a repetição, em matéria metafísica, não poderia ser um mal – mais vale ser claro demais do que não o ser suficientemente –, acreditamos que podíamos voltar às nossas teses de sempre, quer para propor coisas que ainda não havíamos dito, quer para expor de maneira utilmente nova aquelas que havíamos dito. Se o número de dados fundamentais de uma doutrina, por definição abstrata, é necessariamente mais ou menos limitado – é a própria definição de um sistema, pois os elementos formais de um cristal regular não poderiam ser inumeráveis –, o mesmo não acontece com as ilustrações ou aplicações, que não têm limite e cuja função é fazer com que melhor se apreenda o que, num primeiro momento, parece não ser suficientemente concreto.
E uma outra observação, esta de caráter mais ou menos pessoal: crescemos numa época em que ainda se podia dizer, sem ter de enrubescer por sua ingenuidade, que dois mais dois são quatro; em que as palavras ainda tinham um sentido e queriam dizer o que elas querem dizer; em que o homem podia conformar-se às leis da lógica elementar ou do senso comum, sem ter de passar pela psicologia ou pela biologia, ou pela suposta sociologia, e assim por diante; em suma, onde ainda havia pontos de referência no arsenal intelectual dos homens. Queremos deixar claro, com isso, que nossa maneira de pensar e nossa dialética são deliberadamente antiquadas; e sabemos de antemão, pois é por demais evidente, que o leitor ao qual nos dirigimos nos será grato por isso.